Na Praça Prado Filho em Cachoeira Paulista fica o obelisco com o monumento ao Soldado Constitucionalista de 1932
No centro da praça pode-se ver uma bela base com um soldado na ponta homenageando a Revolução Constitucionalista de 1932. Foi um pedido do prefeito Prado Filho ao artista Nelson Lorena, posto que Cachoeira Paulista foi um ponto de resistência durante a revolução.
Mais importante do que todas as cidades em volta. Uma pequena explicação: em 9 de agosto Areias foi ocupada, Queluz cercada, Cruzeiro acuada pelas tropas governamentais e os revoltosos paulistas recuaram. Queluz e Silveiras evacuadas, só havia uma solução para os constitucionalistas: formar uma linha de resistência em Cachoeira Paulista. Como não celebrar a força desta cidadezinha na história do nosso país?
Por Júnia Botelho
Considerações sobre o monumento da praça
Por Nelson Lorena
Alguns rapazes desta cidade, segundo os jornais da época, tiveram à ideia, em 1933 da ereção de um monumento ao Soldado Constitucionalista. Esboçaram uma subscrição e, mais tarde considerado o elevado custo da obra, orçada em mais ou menos trinta contos de reis a abandonaram. Em 1935, o Prefeito Prado Filho fez voltar à tona a ideia. Nomeou comissões, delineou programas, aliciou representantes de classes. dando início aos trabalhos. Dois projetos foram feitos. Um de meu cunhado Raimundo Saraiva Leão e outro meu.
Talvez a velha amizade, de Prado Filho com meu pai, houvesse influído na escolha de meu projeto, pois o de meu cunhado era muito sugestivo. Ficou deliberado que eu o fizesse. Elevado seria o custo do monumento, propus nada cobrar pelo meu trabalho e assim o fiz, trabalhando durante catorze meses, sem prejuízo de minhas funções como ferroviário, desde julho de 1935 a setembro de 1936.
O caso tomou feição política e as objeções contra Zequinha Prado eram estimuladas pelos meus desafetos, havendo mesmo um deles dito. “este monumento somente sairá, quando o Partido Republicano Paulista o fizer”. Era arrojada a minha empreitada, considerando que nunca fui modelador escultor e fundidor.
Mas, costumo realizar alguma coisa, embora problemática, quando meu amor próprio é diminuído. Estimulado por um despeito político, pus mãos à obra. Na justificativa dos detalhes do monumento, expliquei à Comissão que todos eles representavam o ideal constitucionalista desde os primórdios até o holocausto final.
Assim, os degraus da escada de acesso eram o Ideal que tomava forma; as colunas laterais, o entusiasmo empolgando a massa estudantil e o povo; os segmentos laterais circulares eram as primeiras vítimas, encimados pelos MM.D. O grosso à monumento era a luta deflagrada, culminando com a morte do Soldado Constitucionalista, empunhando a espada da Justiça e da Lei.
Na frente, o brasão de Estado Líder. Atrás, o medalhão “Em memória dos que tombaram pela Lei!” o pensamento do autor foi desvirtuado com as mutilações que o monumento vem sofrendo. Os degraus soterrados, os segmentos circulares destruídos, arrancada a estrela do brasão. Ora, todos os monumentos constituem uma síntese de um fato histórico, perpetuando em seus detalhes a história da Pátria. Todo povo culto os estima e venera. Sugeri e volto a sugerir que se isolem os alicerces, circundando o monumento, de maneira graciosa, com uma pequena fonte luminosa, pois, muita gente considera de mau gosto as plantas agressivas que o envolvem.
Isso feito seria evitado o acesso depredatório com melhoria de sua perspectiva. As administrações se sucedem e, com elas, as deformações injustificáveis que alteram o espírito da homenagem, conspurcando a memória daqueles que deram suas vidas pela constitucionalização do país é talvez mesmo pelo restabelecimento da democracia que algum dia também virá.
Nelson Lorena, 01 de abril de 1979
(Originalmente publicado no livro de Milton Lorena, filho do autor e criador do blog Os Lorenas